sexta-feira, 22 de junho de 2007

AUTOR E OBRA -GIL VICENTE








Perfil literário

Gil Vicente foi sem dúvida um homem que viveu um conflito interno, por conta da transição da idade Média para a Idade Moderna. Isso quer dizer que foi um homem ligado ao medievalismo e ao mesmo tempo ao humanismo, ou seja, um homem que pensa em Deus mais exalta o homem livre.

O Autor critica em sua obra, de forma impiedosa, toda a sociedade de seu tempo, desde os membros das mais altas classes sociais até os das mais baixas. Contudo as personagens por ele criadas não se sobressaem como indivíduos. São, sobretudo tipos que ilustram a sociedade da época, com suas aspirações, seus vícios e seus dramas (tipo é o nome dado aos personagens que apresentam características gerais de uma determinada classe social). Esses tipos utilizados por Gil Vicente raramente aparecem identificados pelo nome. Quase sempre, são designados pela ocupação que exercem ou por algum outro traço social (sapateiro, onzeneiro, ama, clérico, frade, bispo, alcoviteira etc.). Ainda com relação aos personagens pode-se dizer que eles são simbólicos, ou seja, simbolizam vários comportamentos humanos.

Os membros da Igreja são alvos constantes da crítica vicentina. É importante observar, no entanto, que o espírito religioso presente na formação do autor, jamais critica as instituições, os dogmas ou hierarquias da religião, e sim os indivíduos que as corrompem. Acreditando na função moralizadora do teatro, colocou em cenas fatos e situações que revelam a degradação dos costumes, a imoralidade dos frades, a corrupção no seio da família, a imperícia dos médicos, as práticas de feitiçaria, o abandono do campo para se entregar às aventuras do mar.

A linguagem é o veículo que Gil melhor explora para conseguir efeitos cômicos ou poéticos. Escritas sempre em versos, as peças incorporam trocadilhos, ditos populares e expressões típicas de cada classe social.
A estrutura cênica do teatro vicentino apresenta enredos muito simples. Provavelmente as peças do teatrólogo eram encenadas no salão de festas do castelo real.
O teatro de Gil Vicente não segue a lei das três unidades básicas do teatro clássico (Grego e Romano) ação, tempo, espaço.
As ideologias das obras vicentinas apresentam sempre o confronto entre a idade Média e o Renascimento ou Medievalismo (Teocentrismo versus antropocentrismo).

As obras de Gil Vicente podem ser divididas em três fases distintas:
1ª fase (1502/1508)
- Juan del Encima
- Temas Religiosos
2ª fase (1508/1515) - Problemas sociais Decorrentes da expansão marítima Destacando:
- "O Velho da Horta" (obra de cunho hedonta);
- "Auto da Índia".

3ª fase (1516/1536) - Maturidade artística
- "Farsa de Inês Pereira", que tem como tema é a educação feminina;
- "Trilogia das Barcas", uma critica social e religiosa.
A obra teatral de Gil Vicente pode ser didaticamente dividida em dois blocos:
Autos: peças teatrais de assunto religioso ou profano; sério ou cômico.
Os autos tinham a finalidade de divertir, de moralizar ou de difundir a fé cristã.
Os principais autos vicentinos são: Monólogo do Vaqueiro; Auto da Alma; Trilogia das Barcas (compreendendo: Auto da Barca do Inferno; Auto da Barca da Glória, Auto da Barca do purgatório); Auto da Feira, Auto da Índia e Auto da Mofina Mendes.
Farsas: são peças cômicas de um só ato, com enredo curto e poucas personagens, extraídas do cotidiano.
Destacam-se Farsa do Velho da Horta, Farsa de Inês Pereira e Quem tem Farelos?
A obra vicentina completa contém aproximadamente 44 peças (17 escritas em português, 11 em castelhano e 16 bilingües).

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